Corcovado (2025) 69 x 78 x 4 cm    
impressão sobre papel, azulejos eliane 80' e barras de latão sobre compensado  ​​​​​​​
# Ter-rito-rios 
Aparente Ordem, Absoluta Desordem.
Através da utilização de azulejos vindos de rejeitos de obras ou do mercado da construção civil, unidos a fotografias impressas, nas obras da serie TER-RITO-RIOS remonto trechos de paredes em uma aparente disputa entre o que se ve ou se abre e o que se fecha ou se constrói dividindo mundos e realidades ou rompendo barreiras.
Minha inquietação teve inicio com a observação da constante pratica do mercado imobiliário de se apropriar de elementos (naturais ou intelectuais), praticas e narrativas em beneficio do lucro e do próprio empreendimento, em detrimento de todo um bairro, cidade ou meio ambiente.
Historicamente a pratica de disputas por terras ou trocas de terras por favores ocorre no pais. Nos dias atuais o mercado tem uma força tão grande, que influencia decisões politicas e em casos extremos é dominado por milícias. Mas em casos menos extremos, essas disputas pelo território ocorrem entre camadas da população adeptas ao ‘progresso’ e outras adeptas a uma vida mais pacata, familiar e de preservação do status quo. Existe uma dificuldade muito grande em planejar o desenvolvimento em longo prazo, preservando os valores locais, naturais e humanos.
Esse movimento avassalador do mercado imobiliário, antes restrito aos grandes centros, tem avançado em periferias e cidades de interior dos Estados brasileiros. 
Essa disputa por territórios imobiliários, pauta a primeira fase de trabalhos desta serie, com as obras FUTURO LANÇAMENTO, COM VISTA PARA PEDRA GRANDE, É O FIM DO VERÃO, EXPLORAÇÃO e SIFRÃO. 
Enquanto trabalhava nas primeiras obras da serie TER-RITÓ-RIOS que abordam um ambiente macro, tomei consciência o que me incomoda no mercado imobiliário, é ele ser reflexo de atitudes individuais com as quais convivi desde minha infância e pessoalmente pude vivenciar diversas dessas disputas.
No ambiente familiar, no mercado de trabalho e até na comunidade sustentável onde resido, percebi que essas disputas ocorrem mesmo pautadas por boas intenções e objetivos nobres. 
Acredito que de alguma maneira, essa disputa por territórios é parte da vida de todas as pessoas. Reconhecendo esse aspecto, e olhando para quem eu sou, observo essa disputa dentro de mim, entre meus pensamentos e desejos, em âmbitos diversos. 
Materialidade:
As obras da série utilizam fotografias impressas em papel, azulejos provenientes de demolição ou sobras de mercado da construção civil, barras de latão e cobre, com base em compensado. 
As fotografias como registros e os azulejos, conferem relação direta com o conceito do trabalho. As barras metálicas tem uma relação mais sutil como parte da composição das obras. Nos ambientes construídos, as barras de latão podem ser utilizadas como elementos de transição ou dilatação entre materiais, evitando que estruturas trinquem ou rompam, dando acabamento e acomodando diferentes características, contornos ou imperfeições dos materiais. 
A utilização de detalhes como esses é bastante comum na arquitetura e nos espaços construídos. Exemplos maiores de elementos de transição são guias e calçadas, por vezes faixas verdes, e tantos outros possíveis, mesmo que a transição não se caracterize por um elemento físico, mas pela impecável ausência dele.
A não utilização do elemento de transição é sinal claro de descaso, falta de responsabilidade, falta de respeito ou intenção pela degradação e desvalorização.
Esse mesmo paralelo pode ser entendido nas relações entre pessoas, empresas, poder público e por aí vai. Mas nessas relações, não existem maneiras claras de definir os "elementos de dilatação", que dependem da boa fé e vontade dos envolvidos. 
As barras metálicas entram na narrativa das obras como símbolo das relações inter pessoais.